quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Parte I

Chovia pouco naquela tarde, o cheiro que vinha do mato molhado emanava fortemente pelo interior da casa de alvenaria, construída em meio à vasta vegetação da fazenda Umatinga. Atrás da casa passava um rio, o qual podia se ouvir suas águas desabarem por sobre as pedras da cachoeira, escondida a um quilômetro dali por um sinuoso matagal que ao rio beirava às margens. Lugar de um sol ameno na parte da manhã, mas que só não escaldava mais à tarde graças à aragem úmida e gélida da serra. Armando estava sentado à varanda, se balançando na cadeira de seu pai, senhor Batista Dantas, que havia falecido naquele instante.

- Armando! – Corria alardeando Malvina, esposa de seu Rufino, moradores vizinhos de seu Batista. – Seu pai está caído ao pé da cerca! - Num súbito solavanco ascendeu Armando da cadeira, esta colidiu bruscamente à parede de pedra. Correu se desfazendo o fôlego, até que a 300 metros encontra seu pai da forma como enunciara Malvina.

Jacinto estava inconsolável. A mão de Eva agarrada a dele tentava torná-lo da dor, mas na medida em que a terra cobria a imagem rústica e tenaz de seu Batista, que agora se unia em túmulo à esposa, o pranto se fazia mais presente em tão mal-acabado semblante . Armando, de longe, se ria por dentro com a ironia de um Machado, mas como bom ator que era, fazia bem o gênero “sofre solitário”. Tenho certeza que conseguiu enganar muita gente ali, pois contei uns dez que lhe foram prestar os pêsames com sincera ingenuidade, mas Eva...não, essa conhecia muito bem seu irmão.

- Parece não ter se abalado muito com a morte de nosso pai... – Eva não era de guardar o que sentia, e tão logo foi ter com Armando que a olhando com uma sinistra expressão e um meio sorriso, lhe respondeu:

– Não sabe o que sinto, não está aqui para saber. – Apontava a cabeça, guardada pelo belo chapéu preto. Saiu dali e foi direto para seu luxuoso carro esporte, enquanto Eva o olhava ir embora mais uma vez.

- Detetive Dantas!

- Sim? - Ela definitivamente era uma bela mulher. Seu longo e encaracolado cabelo ruivo e a pele alva como a neve, que realçava o delicado lábio rubro, faziam de Eva a mais linda policial de Altaneira, um desejo comum a todos dali.

- Trouxe aqui as fotos que me pediu, senhora.

- Muito bem, Ramos...agora me leve até o corpo, quero vê-lo!

Aparentemente nada levava a crer que se tratava de um homicídio, a não ser a porta que fora arrombada e alguns pertences levados. A vítima, caída à porta da geladeira que se encontrava entreaberta, sem sinal de espancamento ou qualquer ferimento, parecia ter sofrido um ataque cardíaco.

- Eu estava dormindo, e só fui dar conta de que ele tinha saído da cama de manhã cedinho, foi quando o achei assim, meu Deus! Fernandes, não! – Relatava chorosa para Eva a pobre viúva. Disse esta também que o marido fazia consultas regularmente com o médico da cidade, Dr. Boris, a quem Eva foi inquirir.

- Tem certeza? – Pergunta perplexo o doutor.

- Sim! Sua esposa também achou estranho ele ter falecido desta forma. O homem era saudável, e com sua idade, 45 anos, não é comum sofrer de infarto. – Afirmou Eva a Boris.

- Posso lhe garantir que o senhor Fernandes era um homem de saúde invejável.


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