
Ensaia desabar em choro como a um infante que a fome arrebata quando delicadamente batem a porta, recompõe-se e vai atender. Sua vizinha tinha os cachos castanhos claros. Nariz afilado em meio a dois grandes olhos sempre firmemente fitos aos dele. Os lábios rosados trêmulos em desejo. A pele homogeneamente bronzeada sob medianos pelos dourados que a coxa em saia justa sensualmente expunha.
Ela voa em sua direção. Agarra-o num beijo sufocante. Camisa azul de gola é rasgada, três botões ao chão. Camiseta branca de renda é rasgada, seios eriçados à mão. No sofá-cama vermelho a batalha deu início: tapas no rosto, outros no clítoris, outros nos seios; chupadas na língua, outras na glande, outras nos seios. Ela cavalga imperiosa sobre o amante rendido até que cai de quatro por ele. Doeu até vencer o esfincter, o azeite não fora suficiente, mas o gozo lhos uniu forte até o despejo da felicidade conquistada no rosto sôfrego dela, como que demarcasse seu o território da fêmea inválida. E ela se vai.
Novamente os dedos à máquina, mas nada, nada o vem. Cigarro-café, cigarro-café, cigarro-café, cigarro-cigarro, café...cigarro. Descerra as cortinas e vai até a varanda. A noite está maravilhosa, a lua nunca esteve tão nítida naquele céu escuro e limpo. Lua cheia de mistérios, de elucubrações crescentes e de minguadas imperfeições. Concorrem-lhe as estrelas com pequena robustez, mas unidas em propósito fazem iluminar até os corações mais endurecidos.
Sentou-se à mesa sem maiores cobranças. Divorciou café do cigarro que haviam acabado naquele momento. A lucidez já o vinha após noite enfadonha de bebidas e sexo. Algo estava claro... era o dia que surgia com seu sol espetando raios de luz e calor sobre suas costas cansadas. Mais um soco à mesa e vai pra cama. Fadiga, desorientação, sono. A editora liga, a velha cobrança de sempre, o sufoca, mas não será desta vez que conseguirá terminar o livro, quem sabe esta noite. Quem sabe...
0 comentários:
Postar um comentário