sábado, 12 de março de 2011

A Culpa


Ela talvez não se apercebeu, mas o jovem a admirava por demais. Se eu pelo menos pudesse dizer-lhe algo sem parecer ridículo - Assim o pobre diabo permaneceu até sua morte. Não conseguia expressar para Lenice que ela era tudo para ele. Os sonhos com a garota o atormentavam. Acordava toda madrugada, exausto, os lençóis suados e as partes íntimas lambusadas. Era uma angústia de lascar.

Todos os dias eles se viam no colégio. Ela sempre bem apanhada em sua farda colegial de uma sainha curta e meias alongadas ao joelho, com um olhar sempre carinhoso, e com um sorriso largo e simpático. Ele era um aborto meado, talvez tivesse acordado naquele momento da cama, aqueles cabelos não eram penteados nunca, e sua farda... devia dormir vestido nela.

Vou falar com ela hoje! - Se falavam todo dia, mas era aquela coisa... ele nunca tocava no assunto "gostar dela". Outro dia Lenice chegava meio que apressada e o viu na escada que dá acesso ao colégio, e perguntou-lhe se o professor não já havia entrado em sala, ele respondeu com um "não" simples e sem mais, creio que Lenice não notou nada de seco na resposta, ela mesma fez uma pergunta direta, estava apressada e talvez quisesse uma resposta sem mais delongas, mas se tivesse um revólver, Jonas teria se feito ali mesmo - Como eu sou idiota! Por que não a pedi para ficar e esperarmos juntos o professor! - Nenhum sentimento é mais devastador para a alma humana que a culpa, nem a inveja consome tanto da psiquê. Mas não, Jonas não se matou ali.

Depois que acordava da polução noturna, vinha à cabeça sempre a mesma idéia de como chegar e falar com Lenice - Vou esperá-la detrás da coluna do pátio e vou pedir um beijo - A garota sempre estava arrodeada de amigas, difícil fazer um pedido dessa natureza na frente de uma platéia de curiosas. Chegar nela não era de um dispêndio maior de força, uma garota simpática, de uma amizade fácil, sempre prestativa com todos e bastante carinhosa - Ela não vai me dizer nada demais na frente de todos, talvez me chame até para conversar em outro lugar, só nós dois. - Infelizmente o medo da derrota era maior que a esperança da vitória, e Jonas padecia a idéia todas as vezes que se dispunha a pô-la em prática, e somente a culpa para o acompanhar. Até que um dia...

Jonas, Lenice e colegas de sala marcaram uma festa no alto da serra, numa noite de neblina intensa, sob uma lua cheia de desejos. Todos se divertiam ao redor da fogueira. o DJ Felipe tocava das Guitarras endiabradas de Hendrix até o eletrônico de Tiesto, passando por Marley e Raul. O som deu uma desaquecida e então surgia uma baladinha romântica. Os olhos de Lenice estavam entregues ao fumo mesclado enquanto dançava aquela música envolvente. Jonas não tinha mais no que mirar senão naquela dança sinuosa e sensual da amada. Algum dos amigos tomou o fumo dela por brincadeira e saiu em disparada na direção da cachoeira, ela foi junto, tropeçou num tronco e caiu no rio, levada cachoeira abaixo morreu quando bateu a cabeça numa pedra. Jonas ali morreu. Sua alma se afogou na cachoeira, e seu corpo repousa ao lado de outros inertes numa cama de hospital. Apenas uma expressão penosa de sua voz é repetida em toda noite de lua cheia, "Culpa minha, Lenice. Culpa minha...".



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